quarta-feira, 22 de julho de 2009

Discos que você precisa ouvir...

Admito que há discos que são um marco na vida de qualquer pessoa simplesmente porque eles são clássicos para a história da música em geral. Muita gente por exemplo nunca viveu algum momento em que a trilha sonora era o álbum branco do Beatles, mas mesmo assim ele faz parte da discografia básica desta pessoa.

Textos falando sobre estas obras consagradas não faltam. Mas e quanto aqueles discos que tocam fundo na nossa alma mas não são aclamados pela grande mídia? Particularmente mantenho uma coleção extensa de gravações que são a minha vida, mas que não chamam muito a atenção daqueles que não tem um profundo interesse pelo mundo musical. Por isso, o
Receituário Pop terá a sessão "Discos qe você precisa ouvir". Se as listas já são um bom indício de modos para expandir as opções musicias, os exemplos de discos que você terá aqui, provavelmente não encontrará com resenhas tão pessoais em outros lugares.

Para começar tal coluna, nada melhor a minha banda particular favorita:

Soul Asylum - Grave Dancers Union (1993):

Para quem: pessoas que gostam de college rock.
Porque ouvir: pela ironia das letras e a beleza das melodias.

No início dos anos 90, poucos aficionados pela MTV passaram imunes a um clipe com imagens de crianças desaparecidas, acompanhado por uma bela melodia e uma letra desesperadamente poética, cantada por um vocalista com um sutil olhar paranóico. A música Runaway Train pode ser lembrada, mas o nome de seus criadores parece pairar no esquecimento.


O Soul Asylum apareceu em Minneapolis, no estado de Minnesota, cidadezinha onde a única diversão para quem não curtia corrida de carros devia ser formar uma banda de garagem. Foi com esse espírito de rock alternativo que David Pirner, Karl Muller, Dan Murphy e Pat Morley – logo substituído por Grant Young – começaram a tocar juntos.


O primeiro disco, um ep chamado Say what you will, Clarence... Karl sold the truck, lançado pela pequena Twin Tones, assim como os trabalhos seguintes ajudaram a construir uma base de fãs fiéis que gostavam da mistura de college rock com punk que o conterrâneo do Hüsker Dü fazia. Os críticos aclamavam Pirner e companhia, enquanto o resto dos Estados Unidos...


Foi com o clipe emocionalmente apelativo que os rapazes de Minneapolis sentiram o dilema entre o prazer e o desgosto do estrelato. Grave Dancers Union (1993) unia a sensibilidade de influências folk e country da música americana, com a pegada rápida e energética do rock que voltava a dominar as paradas com o aclive do movimento grunge.


Em uma dúzia de canções, Pirner, Muller e Murphy conseguiram misturar a guitarra tenaz de Somebody to Shove que remetia à The Replacements com a suavidade acústica das faixas Homesick e The Sun Maid. Outro sucesso, Black Gold, mesmo que mais sutilmente do que Runaway, conseguia fazer os ouvintes pensarem em assuntos sérios, mas de modo descontraído, quase involuntário. Entre metáforas suscetíveis, seria o ouro negro mais uma referência ao petróleo que enriqueceu a poucos e matou muitos: “Ouro negro, em um luta branca, você não vai encher o tanque e sair para dar uma volta?”.


As letras são mais um ponto a favor das canções do grupo. Adeus à temática sexo, drogas e rock n’ roll que era disseminada pelos Estados Unidos através das crias do rock poser anos 80, como Skid Row, Motley Crue e Guns n’ Roses. Mas também não havia a seriedade das músicas de protesto que tomavam conta das ruas em princípio no rap e hip hop e depois invadindo as estações de rádio dedicadas ao estilo musical que havia elegido Elvis Presley como rei. Como principal compositor, David capturava emoções da vida comum, tratadas com metáforas, sarcasmo e trocadilhos bem construídos. Não se via a postura de um rockstar, mas sim a visão de mais um rosto na multidão que falava dos sentimentos que fazem parte de cada um de nós – “porque eu sinto tanta saudade, mas não é tão ruim assim, porque sinto saudade do lar que nunca tive” – com a mesma sensibilidade demonstrada por Bob Dylan desde os anos 60, mas com certeza se levando bem menos a sério, como na piada de Without a trace: “eu me apaixonei por uma prostituta, ela riu na minha cara, eu a levei tão a sério, eu era uma desgraça...”.


Em casos como do Soul Asylum, o sucesso é instigante. Certos artistas atingem o patamar mais alto do estrelato, mas não condizem com essa posição superior. Outros casos são o contrário. Com o ápice da cultura pop reciclável, ser reconhecido pode ser pior para uma carreira do que estar condenado eternamente ao mundo underground.


Não importa a década, sempre aparecem bandas novas que são chamadas de next big thing ou salvação do rock. No entanto, com o tempo elas desaparecem por inteiro ou então são lembradas esporadicamente. Os anos 90 foram prolíferos em grupos que ficaram só na promessa e o Soul Asylum não escapou dessa premissa.


Eles já tinham 10 anos de carreira quando apareceu o divisor de águas: Grave Dancers Union. Entraram para a lista da Billboard de discos mais vendidos e também emplacaram quatro singles. Somebody to shove e Runaway Train chegaram a liderar as paradas. Em 1994, o reconhecimento mor veio: o Grammy de melhor música rock, para Runaway.


Os rapazes tiveram não só o primeiro gostinho do sucesso, mas criaram sua grande obra prima. De repente eles estavam nas capas das revistas mais importantes, faziam shows por toda a parte, tocavam para o presidente Bill Clinton e o vocalista conseguiu o artefato que define quem é quem na indústria do entretenimento: a namorada famosa, Winona Ryder.


O álbum serviu para colocar a banda debaixo da luz dos mais brilhantes holofotes, mas por outro lado, a mudança de trajetória fez com que os dez anos anteriores fossem ignorados pela maioria e os anos seguintes não chegassem nem perto do que eles alcançaram em 93. Um exemplo é o disco Let your dim light shine (1995) que apesar da qualidade foi considerado mediano perante o trabalho anterior. Mas afinal, Grave Dancers Union é bom? Sim, ele é bom, mas sempre fará a dúvida persistir: vale a pena pagar o preço de um grande sucesso?


No próximo Receituário: alguém me dá uma pauta, please?

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