quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Um relato particular sobre o show do Faith No More...

Antes de revelar qualquer detalhe sobre o show do Faith No More em Porto Alegre, no dia 3 de novembro de 2009, preciso contar uma historinha que explica a minha relação com esta banda que voltou a ativa depois de 11 anos. Se você não quiser saber de tal particularidade pare aqui, ou pule para o quinto parágrafo...

Assim como boa parte dos irmãos mais novos espalhados pelo mundo, devo boa parte do meu gosto musical ao irmão mais velho. No entanto, essa relação fraterna vai por duas vias: por um lado você conhece coisas que talvez nunca conhecesse por causa da sua idade, mas por outro você vive sendo torturado com os relatos de experiência que ele viveu, mas você não. Resumindo: sempre fica aquela sensação de “por que eu não nasci antes?”.

A primeira vez que eu ouvi Faith No More na minha vida, eu tinha uns 10 anos e foi vasculhando a discoteca do meu irmão mais velho. Lá estavam The Real Thing (1989) e Angel Dust (1992). Na hora, fiquei viciada em músicas como Epic e Midlife crisis. Ouvia aquelas músicas sem parar, até que veio as frases infames: “É bom né?! Pois eu vi ao vivo”. Por muito tempo achei que ele estava mentindo, afinal, na minha cabeça de criança, nenhuma banda tão grandiosa ia se dar o trabalho de fazer show no Brasil. Mas não é que em 1991, quando meu irmão morava em Brasília, o FNM veio e ele realmente viu o show que incluía a cena que povoou a minha imaginação durante anos: Mike Patton pulando na casamata do Estádio Mané Garrincha e fazendo toda a estrutura de acrílico ir ao chão.

Ainda mais inocente era a pergunta que eu fazia toda vez que ele acabava a sessão tortura: “Por que tu não me levou junto?”, ou então, “Por que tu não guardou uma lembrança de presente pra mim?! Nunca parou pra pensar que um dia tua irmãzinha ia se apaixonar pelo FNM?”. A resposta vinha repleta daquele sadismo típico de primogênitos: “Não, que pena, né?! E tu nunca mais vai poder ver um show igual porque a banda acabou”. Chegamos ao ponto que interessa: ledo engano, caro mancebo, ledo engano...

As 22 horas e 50 minutos, os integrantes do Faith No More subiram ao palco. Enquanto tocavam Midnight Cowboy (incluindo Mike Patton na escaleta) meus olhos já começaram a ficar marejados e um nó se criou na garganta. Mas prontamente eles desataram tal nó, fazendo com que eu acabasse com a minha voz já na segunda canção: From out of Nowhere, eternamente a número 1 na minha tracklist Faithnomoreana...

O primeiro indício que deixou claro que aquele provavelmente se tornaria um dos shows da minha vida era a capacidade que aqueles músicos tinham de transpor tudo aquilo que ouvi durante anos em vinil ou cd para a realidade. Com o Faith No More é assim: aquilo que foi gravado é o que você recebe ao vivo. Nada de ser como aquelas bandas que soam maravilhosamente em estúdio, mas que no palco deixam a desejar. A seqüência Suprise, you are dead/Last Cup of Sorrow deixaram bem explícito todo o potencial musical da banda e especialmente do alcance vocálico de Mike Patton. Meu Deus! O cara canta muito ainda! Felizmente não se juntou ao hall de cantores que um dia tiveram voz privilegiada. Ele continua tendo e mostrando que sua versatilidade como performer não depende da quantidade de projetos musicais que ele tem. No FNM tudo é válido e por essa razão eles se tornaram um dos grupos mais importantes da história do rock.

Outro ponto imprescindível para o sucesso daquele show, era que não havia clima de revival no ar. Os músicos, mesmo com alguns quilinhos extras e a falta de cabelo de alguns (com exceção do baterista Mike Bordin que ainda mantém seus longos dreadlocks, mas agora grisalhos), não deixavam transparecer que haviam parado durante um bom tempo. E mesmo não conseguindo encher a casa de espetáculos, os fãs estavam ali não porque queriam reviver uma época que já passou, mas sim porque o Faith No More nunca deixou de fazer parte da vida de musical de cada uma deles. E a banda deve ter sentido isso... o último bis com We care a lot deixou bem claro que todos os integrantes que estavam no palco haviam envolvido a platéia, assim como as pessoas haviam encantado os músicos.

O show teve mais ou menos 1 hora e meia e seguiu bem no estilo “eu queria mais, mas o que teve já superou expectativas”. Tudo bem que faltou Falling to Pieces e Small Victory, mas quando se teve Evidence cantada parte em italiano, Caralho Voador (composta depois da primeira passagem da banda pelo Brasil no início dos anos 90) e cover de This guy is in love with you do Burt Bacharach seguida do mosh do vocalista, será que dá para realmente sentir falta de alguma coisa?!

No fim das contas eu finalmente pude ver aquele show histórico com o qual sonhei por mais de 10 anos. Nem a dor nas costas e nos braços, a garganta falhando e o pescoço que não mexe direito, apagam o prazer que eu senti de estar na platéria do Pepsi on Stage. Meu irmão não foi junto porque a consciência deve ter pesado depois de anos me martirizando, então eu penso que ele quis deixar as coisas empatadas, um show histórico do FNM pra ele e um pra mim. Agora só me resta esperar por um show do Rush, daí eu não terei que sofrer ouvindo mais uma história intitulada “eu vi e você não”...

No próximo Receituário: que tal falar sobre formaturas?!

* Fotos retiradas do site Uol...

3 comentários:

Lívia disse...

Um dia vou conseguir ir a um show de uma banda que eu aaaaaamo assim. hehe
Deve valer a pena estar toda torta e sem voz de tão bom que foi o show! bj

Carla Gauxa disse...

Só pra garantir guradei aquele link que tu mandou, caso o magistério continue pagando pouco vou complementar minha renda vendendo bíblias! Tem certeza que tu queres falar sobre formaturas? Só se for sobre Formaturas Infernais! ehehe

Gabriel Leão disse...

Romulo No More. Era a brincadeira que faziamos aqui com o nosso amigo Romulo quando adolescentes. Jamil e eu adorávamos sacanear nosso amigo por sua semelhança com Mike Patton desde que comprei o disco King For a Day, Fool For a Lifetime.

No final o nosso "mini Mike" foi ao show e Jamil e eu ficamos sem ver essa. O melhor show que perdi.