quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Portfólio IV

O que é: grande reportagem sobre o site Mojo Books usando a linguagem do jornalismo literário
Aonde: publicada na revista Ufa!, criada na cadeira de Projeto Experimental em Jornal Livre
Quando: 1º semestre de 2007
Imagem: fotos minhas com o tratamento de Manuela Kanan
Observações: a Ufa! venceu o prêmio de melhor Publicação Impressa - Projeto Experimental no 20º Set Universitário.

Livros, discos e muito mais...

A música composta por Zé Rodrix e Tavito dizia algo como “Eu quero uma casa no campo, onde possa plantar os amigos do peito, meus livros e discos...“. Na voz de Elis Regina, a canção sempre me deu uma sensação de saciedade por falar sobre as coisas que eu realmente queria na vida. Contínuo querendo meus livros, meus discos e amigos por perto, mas casa no campo só se tiver computador e Internet. Mal da modernidade? Vício em tecnologia? Há uma razão especial para colocar o computador e a Internet na lista de essenciais: a Mojo Books (http://www.mojobooks.com.br/).

A Mojo Books não é só mais um espaço para publicação de textos desordenados ou então um site com resenhas literárias. Um Mojo Book é muito mais, é a união perfeita das necessidades campestres: música e literatura. A premissa é simples, mas deliciosamente curiosa, como uma canção da Björk ou um livro de Oscar Wilde: se um disco pudesse ser convertido em palavras, que história ele contaria?

O dilema do início...
O que veio antes, o ovo ou a galinha? A literatura ou a música? No caso da Mojo Books, o começo foi com música. Quanto ao ovo ou a galinha, nunca cheguei a uma conclusão.

O criador e editor do site, Danilo Corci explica como foi o nascimento do projeto: “Na década de 90, eu e o Ricardo Giassetti tínhamos uma banda e usávamos a literatura como parte de nossas composições. A banda acabou em 98 e, ano passado, começamos a conversar sobre um eventual retorno. Daí me ocorreu a idéia de fazer justamente o contrário”. O princípio mojísitco é simples: livros com histórias baseadas em discos, criados em ambiente digital, formato PDF, totalmente gratuitos. Corci é formado em Produção Editorial e trabalha como editor na Revista Speculum (www.speculum.art.br), uma revista eletrônica dedicada aos novos aspectos da produção cultural, um espaço para o debate e divulgação das formas de arte, e que acabou servindo como incubadora para o embrião que viria ser a Mojo Books.

Nasceu!!! No dia 02 de dezembro de 2006, Black Celebration do Depeche Mode estava lá, prontinho para quem quisesse baixar, não em áudio, mas em palavras escritas pelo próprio Danilo. Era o princípio de uma longa jornada que em 6 meses rendeu pelo menos 25 livros.

A Mojo Books é praticamente uma ONG, dedicada a propagar os valores literários pelo planeta, em kbytes. O projeto é bancado por Danilo. Custos de produção, banda de downloads... sai tudo do bolso do pai da Mojo. Mas vale a pena porque dá para alcançar objetivos criativos maiores, que são concentrados na vontade de criar uma cultura pop que estimule a leitura e também, quem sabe, em revelar novos talentos literários. Os primeiros sortudos que puderam espalhar o Mojo foram convidados pelos editores. Agora, o site já tem obras esgotadas e aceita colaborações de interessados desconhecidos. Mas não basta dizer que quer e sabe escrever, tem que provar passando pelo escrutínio do processo editorial, a revisão e finalmente edição.

Opa, para tudo!!! Obras esgostadas? Mas não era literatura virtual? É, mas o número de downloadas é limitado por motivos simples explicados por Corci: “Trabalhamos como uma editora física real. Temos tiragens para cada livro. Fazemos isso para possibilitar novas edições revistas pelo autor, com novo projeto gráfico e, também, criar a cultura ‘sebo Mojo’, para os próprios leitores trocarem os arquivos esgotados, gerando mais interação”. Quem quiser se arriscar na criação de um Mojo Book deve respeitar certas regras: os livros não podem ter mais de 30 mil caracteres e devem ser ficcionais. Aqui biografias ou auto-ajuda não viram best-sellers.

Falando em mais vendidos, ou melhor, mais baixados... Na competição por maior número de downloads, os Beatles são os grandes campeões. O livro Revolver, escrito pelo DJ, Jota Wagner, chegou aos 1000 exemplares baixados em menos de 2 meses. Os livros 1 e 2, Black Celebration e Technique (escrito pelo outro editor do site, Ricardo Giassetti, e baseado no disco do New Order) também não estão mais disponíveis.

A Mojo Books é um projeto único, mas que, apesar do sucesso, não tem a ambição de revolucionar a literatura. A vontade dos envolvidos com a editora virtual é ser um expoente para o surgimento de novos autores, que daí sim poderiam ser considerados membros de um novo movimento literário, um estilo próprio da literatura de Internet, mas como disse a mente por trás da Mojo Books, “literatura é um texto criativo de alguém”. E, se tratando de alguéns, a Mojo Books está bem servida, com um cardápio completo de mentes pensantes criativamente ativas que agradam a todos os gostos.

A perseguição da vida...
Nome, CPF, RG, endereço... esqueça essas informações, elas só são essenciais nos cadastros e fichas desagradáveis de preencher, com literatura e música a coisa é mais intíma. Paulo Ferro Junior nasceu, cresceu e sobreviveu em São Paulo há quase 27 anos. Na mistura de artes, ele ainda adiciona o teatro, mas não vive apenas disso. Os cinemas, peças e livros são pagos com alguns serviços de freelancer em editoria.

Com 14 anos começou a escrever pequenas peças, depois rumou para as narrativas mais longas. Então parou! Aos 19 anos redescobriu o prazer de ler e escrever. Em 2003 acabou seu primeiro livro 10 Canções de Amor. Entre o título com sonoridade musical e a Mojo Books apareceram mais um romance, cinco peças de teatro, um projeto editorial chamado Muro (www.edmuro.kit.net) que usou para lançar o livro de contos Sobre o Infinitivo e outras inúmeras histórias foram contadas em revistas virtuais e blogs.

Paulo foi parar na Mojo pelo famoso Q.I. Uma amiga o indicou para o serviço, e logo o livro baseado no disco The Life Pursuit do Belle & Sebastian começou a tomar forma. Por que a escolha do álbum? ”Posso dizer claramente que o Belle & Sebastian é uma influência. Seus cds tocando enquanto escrevo são uma fonte de inspiração inacreditável. Inspiração que gera o livro que homenageia a fonte de inspiração”. O círculo vicioso foi alimentado pelas músicas dos escoceses ouvidas no repeat, por horas e horas... Frases e imagens começaram a se formar... depois tudo ia sendo construído, em várias tentativas, até que de idéia passou para o concreto. O Mojo Book nº10 estava pronto.

Paulo não pára de escrever, segue a regra que a prática leva à perfeição. Também lê muito e gostaria de ver os discos Hein!, do Nei Lisboa, e Closing Time, do Tom Waits, transformados em literatura, não por suas próprias mãos e sim escritos por Marcelo Montenegro e Mario Bortolotto. Quem sabe o Quem Indica faça efeito de novo...

Enquanto não se aventura em mais um Mojo Book, o sobrevivente paulista do teatro e literatura continua pavimentando sua estrada. The Life Pursuit foi apenas um pedaço. Paulo adorou a experiência na editora virtual, mas não acredita que seja a única solução para os que querem ser escritores, nem um livro publicado de forma convencional resolveria todos os problemas. Só há um caminho a seguir: “A solução é não desistir, é seguir em frente, é trabalhar, trabalhar, trabalhar, escrever e escrever. Porque é só o que importa: escrever. E se alguém ler, se muitos alguéns lerem, melhor ainda”.

Literatura é o esquema...
No começo do trajeto pela estrada das palavras, música e literatura andavam juntas na forma de críticas musicais e poesias. O próximo passo da jornada veio em um mergulho na literatura brasileira, enquanto ainda rascunhava estórias em um caderno na busca por técnicas de escrita: “Li os Azevedos e arrisquei meu primeiro livro. Logo invadi as páginas de Jorge Amado e aprendi muitas técnicas legais para prender o leitor”. É por esse caminho que o representante comercial de medicamentos, André Gamma chegou à Mojo Books.

O mundo do recifense de 27 anos vai muito além de bulas de remédios e propagandas de laboratórios. O primeiro chute na porta do mercado literário veio na forma do livro A Bela do Morro. A obra underground, própria definição de seu criador, foi distribuída entre amigos e depois jogada na Internet. Na Mojo Books encontrou a união perfeita entre música e literatura, ou como ele mesmo definiu, uma sacada genial de atitude inteligente.

Histórias reais aglutinadas em outras, recortes de casos contados, personagens baseados em características reais se juntam para construir o enredo de Samba Esquema Noise. O ponto de partida para a história número 21 foi o disco do grupo recifense Mundo Livre S/A. Trilha sonora da adolescência do escritor, as canções dos conterrâneos também criaram uma atmosfera sonora típica da musa inspiradora de André: “O Recife geralmente é minha fonte de inspiração”.

André ferve por sua terra. Suas palavras são contaminadas por tamanha paixão que dá vontade de pegar o próximo avião direto para a capital de Pernambuco. O carinho por suas raízes aproxima o leitor da cidade, assim como Jorge Amado o colocou em contato com a Bahia: “Sempre fui um cara bairrista em relação a Pernambuco, mas ao ler Jorge Amado, fiquei com muita vontade de conhecer Salvador e seu povo!”. Mas voltando a música...

André gostaria de ler um livro baseado nos discos de Raul Seixas, mas também há outros que são uma boa pedida como Chico Science, Itamar Assumpção, Lô Borges... músicos brasileiros acima de tudo: “O catálogo maior da Mojo é internacional. Vou ver se escrevo uma estória de pescadores envolvendo a Lia de Itamaracá ou o Erasto Vasconcelos”.

O patriota entusiasta chegou a adaptar um disco dos Secos e Molhados, transformando o disco, com músicas como O Vira e A Rosa de Hiroshima, em uma trama bem viajada, mas que extrapolou o número de caracteres. Por algum minuto o escritor sentiu que sua força criativa estava sendo barrada? Não, claro que não! Por mais que goste da Internet, André preserva a tradição e prefere livros em formato tradicional: “O computador e a internet podem facilitar a vida das pessoas, mas não eliminam canetas e cadernos. Dizem que o Ariano Suassuna escreve suas estórias em um caderno. Acredito que muitos autores façam assim. A ausência de um computador não é desculpa para deixar de escrever”.

Com tanta vontade de escrever, André Gamma já tem outras obras que estão apenas esperando correção e edição. Anos Mofados, Sofia, Os momentos finais de Samara e Cidade Estuário podem sair quentinhas do forno a qualquer momento, mas de preferência em papel. Como disse o autor, ler na tela do computador dá sono... ”Dói a bunda e a vista!”

O fim é o começo da introdução...
Filipe Luna também tem 27 anos, nasceu em Recife, mas, por favor, não o culpem. Ele não pode escolher onde queria que a cegonha o deixasse. Mas escolher a profissão ele pode, então ter se formado em Arquitetura é culpa total dele, que depois foi levado a escrever através da paixão por música.

Repórter da Trip, colaborador dos sites Radíola Urbana e Coquetel Molotov, antes da Mojo Books teve uma experiência literária: Batalha nas Estrelas. Luna, lua, estrelas... combinam perfeitamente! O livro foi escrito por um Filipe, 20 anos mais novo, que era fã dos filmes de George Lucas. A grande lição da primeira tentativa não teve muito a ver com práticas de escrita: “A história era boa, as ilustrações nem tanto. Acho que desde aquela época eu já devia ter me tocado que não prestava para desenhar”. Arquiteto que não sabe desenhar contra criança que gosta de contar história... o destino estava traçado. Agora, só faltava pegar o disco Endtroducing, do DJ Shadow, e transformar em Literatura.

Os dias de estudante de Arquitetura ainda deixaram vestígios no comportamento de Filipe, pelo menos no que se refere ao processo de criação do livro, que pode ser comparado a uma conta matemática: “Eu sempre achei que o disco tinha uma atmosfera de sonho, meio como uma trilha sonora para um coma. Daí, eu tinha pensado numa história em que o personagem principal estava em coma. Só foi juntar 1+1!”.

“Quando eu e Cecília começamos a namorar, meu avô estava muito doente. Na verdade, ele foi a causa de nossa primeira briga. Na noite em que ficamos juntos pela primeira vez, só fomos nos deitar pouco depois das cinco da manhã. Quando percebi que horas eram, disse que precisava ir embora. Não tinha nem ficado cinco minutos de conchinha (...) Até eu explicar que precisava ir porque meu avô estava doente; que todo domingo eu tomava café com ele; que o velho sentava à mesa às seis da manhã, o nome mais bonito que ela tinha me chamado foi de ‘cafajeste aproveitador’.” Realidade ou ficção? O dilema se espalha também pelo enredo de Endtroducing: “Nem tudo é de mentirinha na história, tem muita coisa que é autobiográfica, apesar de não ser uma história autobiográfica”.

Depois da Mojo Books, Filipe não se envolveu mais com literatura, mas, como ele mesmo disse, é porque não foi atrás. Quanto ao futuro, parece que ele pretende deixar que os astros decidam... ou quem sabe a Lua?

Escrevendo uma história cheia de lágrimas...
Cantor nacional ou internacional? Escritor brasileiro ou estrangeiro? Na Mojo Books tem para todos os gostos. Pablo Melgar tem 31 anos e nasceu em Cuzco, no Peru, mas não pousou na Mojo Books de pára-quedas. O peruano é também um publicitário que adora brincar com textos, escrevendo vários contos. Durante um tempo, morou em São Paulo, onde conheceu Danilo Corci. O futuro editor da Mojo Books, além de amigo se tornou crítico dos textos de Melgar. Junto com o nascimento da Mojo, veio o convite para escrever uma história especialmente para o site.

A escolha de American IV, do cantor norte- americano Johnny Cash pareceu natural. De tão fã do músico, Pablo o chama com intimidade de Juanito Plata. O apelido soa engraçado destoando do enredo da história baseada no disco que conta com músicas tristes e dramáticas, dignas de uma tragédia grega: “Toda vez que ouvia o disco, sempre imaginava a história de um anti-herói derrotado e humilhado tentando se reerguer. E todo o tracklist do álbum parece fazer uma jornada, quase tarefas de Odisseu”.

Em vez da Grécia de Homero, o cenário foi transportado para o período da Segunda Guerra Mundial com um anti-herói derrotado e humilhado tentando se reerguer: “Dizem que o medo tem um gosto amargo, tão amargo que é capaz de paralisar a salivação (...) que faz escorrer uma pequena lágrima que embaça a vista e embaralha as reações”. É fechar os olhos e imaginar o mesmo parágrafo lido pela voz grave que costumava cantar canções como I’m so lonesome I could cry.

“Gosto muito de escrever, mas de certa maneira, gosto muito da idéia de publicar em ambientes digitais. Tira a pressão por resultados de vendas e tudo mais”. Se Pablo resolver repetir a dose e basear um livro em música, ele já tem algumas opções em mente: Disintegration, do The Cure ou qualquer disco dos mexicanos do Molotov. Se depender da primeira experiência, o peruano tem grandes chances de voltar a baixar aqui no Brasil, virtualmente pelo menos: “A Mojo expandiu minhas idéias, a literatura digital pode ser bem feita e divertida também”.

Você está pronto?
Troque o terno preto do Juanito Plata por uma roupa chamativa como um caleidoscópio lisérgico em uma sala iluminada por um globo espelhado. Agora é hora de festa! O mestre de cerimônias atende pelo nome Guilherme Choovanski, e a trilha para a celebração é Deee Lite! Não se lembra dos criadores de World Clique? Que tal cantar e dançar esdruxulamente Groove is in the heart? Agora sim estamos falando a mesma língua.

O paulista de 29 anos (por mais alguns meses) trabalha com Direito, mas tem a literatura como passatempo, mais ler do que escrever. Blogueiro, roterista de quadrinhos, mestre de RPG, Guilherme foi convidado para escrever quando sua notória capacidade narrativa chegou aos ouvidos dos editores da Mojo.

Por que tirar a poeira do LP, ou melhor, fita K7 da banda que teve apenas um sucesso arrasador em 1990? Tudo é uma questão de oferecer opções: “Quando o Ricardo Giassetti me explicou a proposta do Mojo Books, eu mandei um e-mail com quatro alternativas: Um conto sobre um relacionamento com cenas de flashback e final infeliz baseado o The Queen is Dead, do Smiths. Uma história meio sobrenatural, passada em Londres com personagens indianos, inspirado no cd K, da banda de britpop Kula Shaker. Um conto de gangues de Los Angeles, com uma garota no papel principal, baseado no Tragic Kingdom, do No Doubt. Ou um conto lisérgico de ficção científica, bem viajado, baseado no World Clique, do Deee Lite. O Giassetti foi específico. Sugeriu que eu pegasse o Deee Lite. Primeiro porque eles já tinham contos demais sobre relacionamento, depois porque achava a banda a minha cara”.

Decisão aceita e acertada...

Não só o visual de Lady Miss Kier e companhia são alucinógenos. World Clique é assim também, ou na própria definição de Choovanski “é todo lisérgico, vibrante e positivo”. A banda com inspirações à Parliament Funkadelic e Sly and Family Stone foi um dos primeiros expoentes da música eletrônica. As batidas do estilo delinearam um conto de ficção científica doido, viajado, inimaginável mas com uma mensagem positiva no final. No total, a viagem tem 12 capítulos de duração. Mas, no final, o leitor pode brincar com a rota que quer seguir durante a leitura, como se fizesse um remix característico da música eletrônica. Como disse Guilherme: “Queria que o livro permitisse no final que o leitor remixasse a história, relendo na ordem que quisesse, à la Quentin Tarantino”.

Dos livros que um dia poderiam ser escritos, Choovanski gostaria de ler uma adaptação de Veneno de Lata, de Fernanda Abreu: “É o disco que faz a ponte do funk ligando o morro com a classe média carioca. E desconstrói a garota de Ipanema, transformando-a na garota carioca, suingue e sangue bom”. Um próximo projeto para o paulista, quem sabe? Não! Por que? “A história teria que ser escrita por alguém do Rio. Ou que conhecesse bem os modos e as dinâmicas daquela cidade. Senão ia soar artificial, sem graça”. Já fica aí a sugestão para quem quiser exercitar o intelecto...

Lady Stardust cantava suas canções de escuridão e consternação...
Homens, homens e mais homens... assim a Mojo Books está mais para Clube do Bolinha do que para editora virtual. Mas não, também há lugar para Luluzinhas! Maria Lutterbach é de Belo Horizonte. Jornalista freelancer, escreve para a revista literária de bolso, Mininas. Revistas literárias não são comuns, de bolso então, menos ainda, mas uma revista literária de bolso com textos feitos por mulheres. O mundo habitado por Evas, Afrodites e Marias também pode influenciar as crônicas que Lutterbach escreve para o jornal O Tempo. Maria também mantém o blog Notas Submersas desde 2003.

Quando a moça de BH tomou conhecimento da Mojo Books não perdeu tempo: procurou os editores, mostrou seus trabalhos e propôs sua idéia. A publicação de The Rise and Fall of Ziggy Stardust, o vigésimo Mojo Book, é a prova que seu trabalho agradou.

Na música, Ziggy Stardust é um alienígena que deu uma passada aqui pelo planeta a convite do cantor inglês David Bowie. As roupas incomuns, que de tão justas só poderiam ser usadas por um ser esquelético, os brilhos constratando com a pele pálida, quase translúcida, os cabelos vermelhos espetados e completados pelo famoso mullett, ajudaram Ziggy a conquistar a Terra com sua banda The Spiders from Mars. O mesmo anfitrião do marciano foi o responsável por seu fim.

Ziggy estava morto até que Maria o ressuscitou na pele de Z. Mas para que isso acontecesse, sacrifícios foram feitos: “Esquecer a cerveja com os amigos por alguns dias, sentar na frente do computador com uma jarra de água do lado, sobreviver ao calor e escrever”. O processo de criação parece desgastante, mas porque Ziggy? “Além de ser realmente fã do disco, o escolhi porque, apesar de trazer uma onda glam e andrógena, tem para mim uma grande pitada de melancolia”.

O declínio deste Ziggy é causada por assuntos bem mais contemporâneos do que os intemperes de outro planeta. “No pacote de pão de forma, Z lê pela trigésima vez naquela semana a frase ‘Livre de Gorduras Trans’. O aquecimento global fritando miolos sem misericórida, o Apocalipse já com data marcada e a comoção nacional gira em torno da gordura trans”.

Voltemos a Lady Maria Stardust. Z subirá aos palcos em uma cena teatral, dentro do projeto Cenas Curtas, realizado em Belo Horizonte pelo Galpão Cine Horto. Por enquanto Maria está aproveitando suas férias bem merecidas, mas com certeza seus pensamentos continuando borbulhando, fervendo, cozinhando e preparando a próxima empreitada.

E o futuro da Mojo Books?
O site provou ser um espaço democrático e talvez seja seu maior mérito. Há literatura feita na Internet bem cuidada e para todos. A maioria dos que já colaboraram com histórias não se dedicam exclusivamente à literatura, por mais que fosse a vontade mais profunda. Também é provável que sem a Mojo Books e suas facilidades, os mesmos aspirantes a literatos não tivessem a chance de publicar um livro.

Se esse é o futuro da literatura, não dá para saber! Sempre haverá alguém que tentará barrar as novas técnicas literárias, mas o espaço da Mojo Books é sem limites, ainda há muito a oferecer aos internautas. O que importa é que agora os livros e discos não são mais o bastante. Que Elis Regina me perdoe, mas concordo com Austin Powers: Mojo é essencial!

No próximo Receituário: muitas mininas...

4 comentários:

Anônimo disse...

Mega é maior que hiper, assim como Inter é maior que Grêmio.

Anônimo disse...

também acho que mega é maior que hiper, mas quanto à segunda afirmação do colega...
de qualquer forma, eu li a matéria inteirinha e adorei. muito interessante e bem escrita, parabéns!
agora, trancar a cadeira da june? bom, se tu não se sentia segura pra continuar, não valia a pena mesmo... em todo o caso, é triste, afinal, era a única aula em que nos encontrávamos!
pergunta depois pra letícia (se ela ainda não te contou...) sobre o "episódio da prova". hehehe
beijos então, a gente continua se cruzando (espero) no caminho curto entre os prédios 7 e 8!

Giovanna Vilela disse...

Opa,ótimo post.
Se quer saber minha teoria sobre começos,sobre o ovo e a galinha...
Foi o ovo que veio primeiro, afinal, a galinha assim como todos os animais da terra, é o cruzamento de outras especies. Sendo assim, uma espécie X cruzou com uma espécie Y e deu um ovo. Deste ovo, VOILA... Nasceu a galinha, aquele animal com penas e que bota ovo. Agora outros tipos de galinha, aí já não saberia esplicar... beijos

Anônimo disse...

respondendo as tuas perguntas, então... bom, por que eu escolhi letras? nem sei... eu tava entre letras e jornalismo, acabei escolhendo letras e não tenho a sensação de que estou no lugar errado (na maioria do tempo), só às vezes bate um desânimo com a quantidade de trabalhos, leituras... etc. mas, quem é que não passa por isso? e quanto à outra pergunta, eu to fazendo literatura americana século XVIII e XIX. pode deixar que eu grito quando precisar de alguma coisa... hehe (ah e valei por ofercer). beijocas! ;****