quarta-feira, 9 de maio de 2007

A insustentável leveza de ser Amélie...

Desde que mostrou ao mundo o seu fabuloso destino, Amélie Poulain tornou-se um símbolo, a maiorias das garotas gostariam de ser essa personagem cinematográfica! Mas a Amélie dos meus sonhos é a outra, de carne e osso, real e com o sobrenome igualmente estranho e com sotaque francês.

Amélie Nothomb é a escritora que me levou a parar de escrever. Essa afirmação soa tão confusa quanto muitas das tramas nos livros desta escritora belga, mas essa é a verdade. Contrariando a natureza que faz com que o fã se inspire no ídolo, eu parei de inventar histórias depois que li Higiene do Assassino. Tudo o que pudesse sair de ficcional da minha cabeça não seria nem ao menos metade tão interessante do que as histórias de Amélie. E se não é para ser bom, então é melhor não ser!!!

Cativada na primeira leitura daquela literatura tão estranha e nova. Na orelha do livro o estranhamento já começava: "Um câncer raro desafia o octogenário Pretextat Tach...". Quem diabos chama alguém Pretextat?! A descrição do personagem também não é algo muito favorável: "Pretextat é uma figura repulsiva. De tão gordo, vive preso a uma cadeira de rodas por não ser mais capaz de andar...". Nada, por mais ultrajante, nojento, ou seja qual for o defeito, me impedia de devorar cada palavra daquele livro que mudaria minha vida.

O estranho é o que há de mais intrigante! Seguindo a ordem veio As Catilinárias. Mulher com um gosto requintado para nomes e palavras difíceis. Mas Amélie é a rainha das catilinárias, das acusações violentas e eloqüentes, por isso é tão bem definida como alguém que "conta histórias perversas do mesmo modo como algumas crianças se divertem arrancando asas de insetos". Essa belga perturba nossos pensamentos com o seu cinismo que faz com que o desejo de um dia ser ela cresça sem fronteiras.

Atingimos a um ponto que não há mais como negar: Amélie nasceu para escrever e eu serei eternamente grata por isso. Em A Metafísica dos Tubos, nada se restringe a papos filosóficos enfadonhos, porque ela inova recriando a forma de se escrever uma autobiografia. Mas espere um instante, como pode ser um retrato da escritora se eu posso me enxergar tão bem em suas descrições? Lendo sobre os jovens tubos, pude entender finalmente o grande poder do chocolate branco. Ficou tudo confuso? Que continue assim porque eu nunca poderia entregar os divinos segredos dessas obras que merecem ser lidas, uma, duas, três, quatro, cinco vezes...

Então, se Pretextat já era incomum, que tal Plectrude?! Mesmo que o livro seja entitulado Dicionário dos Nomes Próprios, Plectrude não pode ser considerado um nome. É na verdade uma sina que só poderia ser o ponto central de uma trama onde a escritora embarca mais uma vez no ramo das biografias, mas dessa vez supera a si mesma e descreve ninguém menos do que o próprio assassino. Eu já deveria ter avisado, mas antes tarde do que nunca: Amélie não deve ser entendida e sim vivenciada.

Não queria que fosse o fechamento, mas se não há outra opção... Medo e Submissão foi o último livro que li desta que ainda nem chegou aos 40 anos. Poderia haver outros se as editoras se dignassem a apurar a publicação de suas obras aqui no Brasil. Talvez de todas as suas histórias, essa tenha sido a que mais me deixou a desejar. Por alguns momentos pensei, "Amélie não é infalível", mas como ela é uma caixinha de surpresas, logo surgiam pérolas que faziam com que eu calasse a boca e me ajoelhasse em devoção a ela mais uma vez. Então em algumas palavras ela definiu tudo o que sempre quis ser: "Quando pequena, eu queria tornar-me Deus. Não demorei a me dar conta de que seria pedir demais, e verti um pouco de água benta em meu vinho de missa: seria Jesus. Mas logo tomei consciência do meu excesso de ambição e aceitei 'fazer-me' de mártir quando fosse grande".

Por Amélie perdi a vontade de escrever mesmo com ela dizendo: "Escrever me dá um prazer intenso, é amoral que me paguem por isso". E eu sinto prazer ao pagar pelos livros de Amélie, por quanto tempo isso será suficiente, eu não sei. Quem sabe um dia eu crie a biografia da autora que acabou com minha vontade de escrever. A trama já começa de um ponto de vista bem ameliano...

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Tanto tempo sem escrever... apenas dois motivos: revisitar a obra de Amélie antes de escrever sobre ela e eleger prioridades. Como alguns já sabem, estou me sentindo o Coelho Branco da Alice no País das maravilhas. Depressa, rápido, não vai dar tempo...

A Revista YMSK foi atualizada. A Discotopia com a segunda parte da lista com os maiores festivais de música está lá, assim como um perfil da Björk. Também tem elogio que será lembrado por mim a vida inteira. Um dia pago o responsável por isso!

No próximo Receituário: 5 artistas que você não pode deixar de ouvir...

9 comentários:

Anônimo disse...

lidiana, gosteido seu blog, escreve muito bem, parabens... dpeois da um apassada la no oloucomeu, ok?

Denis Pacheco disse...

"Amélie Nothomb" entra para a planilha de autores que preciso desesperadamente ler... já tive dias de "esse livro me faz desistir de escrever", mas persisto qdo vejo a lista de Best Sellers da semana... rs

Vc e seus posts aprofundados deixam meu blog humilhado com meus tops simplistas... rsrsrs

Bjao
Denis

Anônimo disse...

Compensou bem a lacuna nas receitas apresentando mais um índice cultural para alimento do cérebro e da alma.

Beijo.

Anônimo disse...

deu vontade de lê-la, naturalmente. tu já tá organizando reservas dos teus exemplares? eu me candidato para o segundo semestre, to atulhada de coisas pra ler pra facul... que coisa. nem pense em parar de escrever, boboca, tu escreve muito bem. bjos!

Giovanna Vilela disse...

Obrigada, você acaba de me presentear com uma enorme vontade ler não um, mas vários livros... Tem coisa melhor do que ser apresentado, de forma tão delicada, estilo Amelie Pollan, para uma escritora, também Amelie?
Adorei seu blog,voltarei mais,

Take care*

Marcella ﻬ disse...

O poder do chocolate branco? me interessei, demais. Fora isso, se vem de ti...Deve er muito bom! ahhh, logo agora que eu resolvi mergulhar em Capote e ler toda a sua obra?! Mais uns pra pilha...
Beijão querida.
Mas não pare jamais de escrever!

Anônimo disse...

Nunca tinha ouvido falar nela, mas farei minha revanche!

Abs

Mónica Lice disse...

Parabéns pelo blog!

Beijinhos de boa semana!

Tiagodelic disse...

Fiquei com vontade de ler tb! Beijo